Grigori Yefimovich Rasputin é uma das figuras mais enigmáticas e controversas da história russa. Chamado de “o monge louco”, ele foi um místico camponês que conquistou a confiança da última família imperial da Rússia e se tornou alvo de adoração, ódio e inúmeras lendas. Sua vida mistura realidade documentada e boatos exagerados, criando um personagem que ainda hoje fascina historiadores, escritores e cineastas.


Origens humildes (1869–1897)

Rasputin nasceu em 21 de janeiro de 1869 na aldeia de Pokróvskoie, na Sibéria. Filho de camponeses, teve uma infância marcada pela vida rural e pelo isolamento. Apesar de pouco educado — era praticamente analfabeto — desenvolveu desde jovem uma reputação de possuir habilidades “místicas” e dons de cura.

Aos 28 anos, Rasputin deixou sua aldeia para peregrinar por mosteiros e locais sagrados, experiência que moldou sua imagem de homem santo. Diferente dos monges tradicionais, ele pregava uma espiritualidade intensa e emocional, misturando fé ortodoxa com práticas místicas e uma vida pessoal repleta de excessos.


Chegada a São Petersburgo e ascensão na corte (1903–1907)

Em 1903, Rasputin chegou a São Petersburgo, capital do Império Russo. Sua fama como curandeiro rapidamente se espalhou, e, em 1905, foi apresentado ao czar Nicolau II e à czarina Alexandra Feodorovna.

O ponto de virada foi seu aparente sucesso em aliviar as crises de hemofilia do tsarevich Alexei, herdeiro do trono. A doença era incurável na época, e a melhora do menino — atribuída a Rasputin — garantiu-lhe a proteção e devoção da czarina.


O “monge louco” e o poder nos bastidores (1907–1916)

Com o tempo, Rasputin passou a ter influência política, já que Alexandra o consultava em questões de Estado, especialmente quando Nicolau II estava ausente durante a Primeira Guerra Mundial. Isso provocou desconfiança na nobreza e no clero, que o acusavam de manipular a família imperial.

Sua vida boêmia — com relatos de festas, casos amorosos e consumo excessivo de álcool — alimentava escândalos. A imprensa o retratava como um homem lascivo, perigoso e ligado a forças ocultas. Mesmo assim, sua posição na corte se mantinha firme graças à confiança absoluta da czarina.


A reputação como sedutor

Poucos aspectos da vida de Rasputin foram tão explorados e distorcidos quanto sua suposta vida sexual. Numerosos boatos afirmavam que ele mantinha relações íntimas com mulheres da alta sociedade russa, incluindo até mesmo damas de companhia da czarina — e, para seus inimigos, talvez até a própria imperatriz, embora historiadores considerem essa última acusação altamente improvável.

O que se sabe é que Rasputin cultivava uma doutrina mística pouco ortodoxa: acreditava que a salvação espiritual poderia ser alcançada por meio da libertação dos desejos carnais e da confissão após o pecado. Esse pensamento o colocava em um caminho perigoso, pois misturava religiosidade com intimidade física, algo que chocava a moral da época.

Muitas mulheres, fascinadas por seu olhar penetrante, sua aura de poder e o magnetismo pessoal, o seguiam com devoção quase hipnótica. Ao mesmo tempo, seus detratores o descreviam como um manipulador que explorava fragilidades emocionais para fins próprios.

Essa reputação de sedutor — verdadeira ou amplamente exagerada — ajudou a alimentar o mito de Rasputin como um homem que unia misticismo e sensualidade, e foi um dos fatores que mais envenenaram sua imagem pública.


O assassinato (1916)

Temendo que Rasputin levasse a monarquia ao colapso, um grupo de nobres liderado pelo príncipe Félix Yusúpov e pelo político Vladimir Purishkevich planejou seu assassinato.

Na noite de 29 para 30 de dezembro de 1916 (calendário juliano), convidaram-no para um jantar no palácio Yusúpov. A história oficial — já cercada de lendas — conta que ele foi:

  1. Envenenado com cianeto em bolos e vinho (sem efeito aparente).
  2. Baleado várias vezes.
  3. Espancado.
  4. Jogado ainda vivo no rio Neva, onde teria morrido afogado.

No entanto, exames posteriores e investigações históricas indicam que muitas dessas versões foram exageradas ou inventadas, reforçando o mito de sua “imortalidade”.


Mitos e lendas sobre Rasputin

Rasputin tornou-se uma figura lendária, e muitos mitos cercam sua vida e morte:

  • Dons sobrenaturais: Acreditava-se que ele tinha poderes de cura e a capacidade de hipnotizar pessoas.
  • Vida libertina: Relatos dizem que ele seduzia aristocratas e camponesas, usando a justificativa de “purificação espiritual”.
  • Profecia final: Antes de morrer, teria escrito ao czar que, se fosse morto por nobres, toda a família imperial cairia em até dois anos — algo que se concretizou com a Revolução de 1917 e a execução dos Romanov.
  • O homem impossível de matar: A narrativa de que sobreviveu a envenenamento, tiros e espancamento antes de finalmente morrer afogado é uma das mais repetidas.

Legado e representação cultural

A imagem de Rasputin transcendeu a história real. Ele é retratado como vilão, profeta ou mártir em filmes, músicas, livros e até quadrinhos. Sua figura mistura misticismo, decadência e intriga política — o que o mantém como um ícone do fim trágico da monarquia russa.

Do ponto de vista histórico, Rasputin foi tanto produto de um império decadente quanto símbolo da desconfiança popular na elite. Sua presença na corte ajudou a alimentar a narrativa de que a monarquia estava isolada e entregue a forças obscuras.


Rasputin é um personagem que desafia a separação entre mito e realidade. Sua vida foi marcada por uma ascensão improvável, um poder informal extraordinário e uma morte envolta em mistério. Independentemente de seus verdadeiros dons ou intenções, sua história reflete o caos e a instabilidade da Rússia pré-revolucionária, e sua lenda continua viva mais de um século depois.

By JMarzan

Grigori Rasputin: O Monge Misterioso da Rússia
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